quarta-feira

Como esquecer alguém...



"Houvesse um medicamento, que depois de tomado nos fizesse esquecer a pessoa que amamos e as farmácias ficariam inundadas de gente à sua procura. Existisse uma operação que nos removesse a parte da memória que nos faz lembrar esse alguém e ficariam enormes as listas de espera para essa cirurgia. Mas não existe. Não há. Não se vende, nem se opera.
Mas pode-se esquecer? Pode. Como assim? Ora, usando uma técnica vulgarmente usada pelos bombeiros para extinguir os incêndios. O lendário truque do “Fogo contra Fogo” que basicamente consiste em lançar outro fogo em direcção ao que vem a arder. Assim, queima-se uma área que ainda não esteja ardida, para que quando o fogo lá chegar nada mais tenha para arder. E é limpinho.
O que há a fazer é queimar o que ainda houver de bom e fazer com que as coisas que estejam associadas à pessoa que queiramos esquecer não nos pareçam assim tão agradáveis. E quando ela – leia-se o incêndio – aparecer, já só resta terra queimada.
E assim, aproveitando esta bonita analogia dos incêndios, é justo revelar que aqui o grande problema é o vento, o vento que pode reacender as chamas. E esse vento, pode ser uma chamada dela – que ninguém atenda o telefone – uma súbita vontade de lhe ligarmos nós, às 4 da manhã com uma voz notoriamente embriagada – apague-se já o número – o vento pode ser uma foto dela ainda no quarto – que se guarde isso numa gaveta escura – uma carta que imbecilmente relemos – perigo, perigo! – Aceitarmos um convite para jantar a dois sob o pretexto de irmos falar sobre o ambiente no mundo – isso será muito arriscado – ir a casa dela rever a primeira temporada dos Sopranos em vd. – que fique claro, ao aceitarem o convite, isto já nem será vento, mas possivelmente, um tornado.
E assim, voltando à perniciosa técnica do fogo contra fogo, o mais importante, é queimarmos tudo à volta sem usarmos um único fósforo. É dizermos “isto é muito bonito e tal, mas eu tenho que sair daqui antes que se faça tarde” e assim, ao não permitirmos recaídas que sabemos que só irão adiar o inevitável, extinguiremos o pouco que vai existindo até que tudo fique reduzido a cinzas, tão frias e inertes, que nenhum vento será capaz de as reanimar."

3 comentários:

  1. passa por aqui...
    http://pequenasdecisoes.blogspot.com/2009/02/eu-ca-sabia-exactamente-o-que-queria.html

    e descobres que afinal pode existir um medicamento que tenha como efeito terapêutico o apagar as más memórias....

    nunca se sabe....

    :)

    bom fim semana!

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  2. enviei um comentário no outro dia para este post.....

    reecebeste?

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  3. A noite adormece
    todos dormem
    estarei voando
    noites eternas
    Diga-me que não eternizo tuas noites?
    infinitas madrugadas(...)

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