domingo

Deixar-me levar

O problema de tudo isto é não nos deixarmos levar, seria tão mais fácil se o fizéssemos.
Mas não, a desconfiança que se instalou em nós impede-nos disso.
Crescemos a ouvir isto: “ Tu não te deixes levar!” e só agora percebo o mal que nos terá feito.
Crescemos tanto, ficamos tão adultos, tão sábios, tão certos de tudo e de todos, que desaprendemos a deixar-nos levar.
E eu quero deixar-me levar, como quando eu era mais pequena e alguém me dizia “ vamos por ali!” e eu, sem que conhecesse o caminho, ia por ali, deixando-me levar, até que o fim do dia me devolvesse a casa.
O mundo está perigoso, dirão.
Está bem, concordo, mas não é por isso que eu deixarei de sair à rua.
Do mesmo modo, que não me deixarei de entregar a quem pouco ou nada saiba. Por mim, pode ser às escuras, que eu já vejo tanto.
Por mim, pode ser já agora que amanhã é longe.
E não quero saber de tudo, não preciso. Mania esta de que querermos saber tudo com detalhe.
Eu não. Quero ter dúvidas e muitas de preferência. Quero ter boas dúvidas. Quero sentir que pouco ou nada sei sobre aquela pessoa como se esta fosse um livro novo que ainda não começamos a ler.
E não, não quero saber a história, não preciso que me contem o filme todo porque já tenho o livro e quero lê-lo.
Do mesmo modo que tenho uma vida e quero vivê-la sem grandes sinopses. Eu não quero saber de tudo.
Que graça tem explicarem-me tudo, antes mesmo de eu o ter percebido.
Isso é contarem-me o filme e eu quero ir vê-lo à sala de cinema.
E aqui chegada, o que eu quero, é deixar-me levar mesmo que perceba que me estou a deixar levar.
Era preferível que não percebesse mas o que é querem?
A idade adulta deu cabo disto.
Por mim podem enganar-me à vontadinha, dizer que o amor é para sempre... eu acredito, podem afiançar-me que eu sou a única pessoa na vossa vida e a mais importante de todas elas...eu acredito.
Daí que não queira fazer mais perguntas, por mim, está bom assim.
Quero deixar-me levar.
Já hoje.
Daqui.
Agora.

1 comentário: